segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Stolarskais: haicais de André Stolarski

Arrisco a dizer que esse tenha sido um dos melhores livros que li da safra de 2013. A questão é que eu não li praticamente nada, de qualquer forma, eu precisava dizer isso para mostrar quanto os haicais de Stolarski, ou melhor, os Stolarskais, são sensacionais. É realmente uma pena que o autor não possa mais nos aprazer com seus poemas, uma vez que faleceu prematuramente em agosto do ano passado.



Nunca compreendi muito bem o conceito de haicai. O que sempre tive na memória era algo como "poema japonês curto que parece simples mas tem alguma complicação". O prefácio de Noemi Jaffe problematiza o termo, trazendo várias regras que envolvem a sua criação:

Lembro de algumas regras sobre a prática do haicai que, no Japão, fazem parte de uma série de rituais sagrados: ele deve ter dezessete sílabas divididas em três versos; não pode se referir ao "eu" e nem usar essa palavra; deve ter humor, silêncio, deve falar da natureza e conter o que Alice [Alice Ruiz] traduziu como "grata aceitação", que nada tem a ver com o espírito de Poliana, Alice dava o exemplo de um haicai de Bashô, o grande mestre haicaísta do século XVII Sem óleo para a lâmpada/ Deito-me cedo esta noite./ Na janela, a lua.

Os haicais de André, salvo raras exceções, parecem dar conta de todos esses complexos princípios do haicai:

Ser como o acrílico:
Transparente de si
Sujo de tudo

Jogadores de sinuca
Se aposentavam
Em Caçapava

Quer perder peso?
Pergunte-me e como-o
Sorriu o canibal

Madame sem tempo no salão:
- Minhas unhas
Que se lixem



Pastou a vida inteira
Pra terminar
Num bom açougue

O pretérito
Um galã: o partido
Mais-que-perfeito

Acredito
E desconfio de tudo
Religiosamente

Aqueles poemas que talvez não se enquadrem no concepção tradicional de haicai, são, ainda assim, pequenas pérolas de poesia.Por fim, cito aquele que provavelmente será uma das epígrafes da minha futura - e ainda distante - dissertação de mestrado:

Deixe de frescura
Reescreva
Toda a literatura

Boa parte dos haicais (ou talvez até todos, não conferi) estão na página do Instagram do poeta: http://instagram.com/andrestolarski. Quem prefere o livro de papel, vale a pena, pois essa edição da Cosac Naify é linda de morrer. A capa é um envelope que protege as páginas do livro, confeccionadas em material transparente. Apesar de os poemas estarem disponíveis na internet, achei um excelente custo X benefício ter esse charmosíssimo de livrinho na minha estante.

STOLARSKI, André. Stolarskais: haicais de André Stolarski. São Paulo: Cosac Naify, 2013.

Nenhum comentário:

Postar um comentário