Não há frase na agenda sobre essa sensação quase absoluta, que às vezes me assustava porque é só estender a liberdade e de um instante para outro você não tem mais passado, nem sente falta de nada porque é como se nada tivesse acontecido, ou só as coisas que você escolheu, as lembranças boas e inofensivas, e nada do que você disse ou fez a uma pessoa tem consequência porque nunca mais precisará encontrá-la, nem pensar nela, nem imaginar e confrontar o que foi feito dela em outro tempo e outro continente numa vida que às vezes nem parece ter sido a sua.
Os eventos que giram em torno do personagem são um show da banda Nirvana, que aconteceu em São Paulo em 1993 e o suicídio do vocalista no ano seguinte. Como contraponto, está a história de Immaculée Ilibagiza, sobrevivente da guerra em Ruanda. De um lado, está o astro do rock com fama e dinheiro. De outro, está a a refugiada que fica 90 dias em um banheiro com outras setes mulheres, praticamente sem alimento. O primeiro dá cabo a sua vida, a segunda luta ferrenhamente pela sobrevivência. Enquanto isso, o protagonista chega a cogitar o próprio suicídio.
Esse narrador-personagem é um estudante de classe média que se vê obrigado a largar projetos promissores com sua banda e a interromper a faculdade para prestar o serviço militar obrigatório. São várias experiências conjuntas: frustração com o curso de Direito, primeira (e problemática) namorada e a revolta com a falta de sentido das atividades do quartel.
A narrativa se dá em flashback, em uma espécie de análise ou balanço que o personagem faz daquele período de sua vida. Detalhes significativos, como por exemplo, se ele conseguiu chegar até o show do Nirvana ou não, somente são revelados no final do livro.
Ainda que a história seja simples, A maçã envenenada é um excelente romance. Tem um personagem intimista que procura seu lugar no mundo, como se naquele período conturbado de sua vida estivesse sua identidade: "e é por isso que em quarenta anos de vida analisada a única passagem que permanece numa zona de sombras é o período próximo do show do Nirvana.".
Boa leitura!
LAUB, Michel. A maçã envenenada. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
Já na terceira página do livro, o autor menciona a "umidade e a sujeira do verão em Porto Alegre". Curiosamente, li o livro em uma das piores ondas de calor desse verão de Forno Alegre... |
A narrativa se dá em flashback, em uma espécie de análise ou balanço que o personagem faz daquele período de sua vida. Detalhes significativos, como por exemplo, se ele conseguiu chegar até o show do Nirvana ou não, somente são revelados no final do livro.
Ainda que a história seja simples, A maçã envenenada é um excelente romance. Tem um personagem intimista que procura seu lugar no mundo, como se naquele período conturbado de sua vida estivesse sua identidade: "e é por isso que em quarenta anos de vida analisada a única passagem que permanece numa zona de sombras é o período próximo do show do Nirvana.".
Boa leitura!
LAUB, Michel. A maçã envenenada. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
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